Imagem: Anselmo Venansi
O big rider Haroldo Ambrósio (esq.) e o prodígio Gabriel Medina na session de stand up paddle em Maresias
A onda havaiana começou a quebrar timidamente no nosso litoral nos últimos dois anos. Agora, nas praias de São Paulo e do Rio de Janeiro já é difícil passar um dia sem ver ao menos um surfista remando no mar. “Outro dia parei pra contar. Eram 18 caras de paddle na água de uma só vez aqui no Guarujá (SP).” Quem contabiliza é Luis Felipe Gontier, o Pipo, dono da Gzero Tech, uma das maiores fabricantes de shapes para stand up no Brasil. E essa não é a única conta que Pipo tem feito. “Tenho fornecido shapes para novos fabricantes que estão comprando com mais regularidade e com um volume maior do que há um ano. Se antes eu fornecia pra dois caras, hoje já é para uma meia dúzia de fabricantes de prancha. E, se antes eles me pediam dez shapes a cada 30 dias, agora é a cada 20 dias.”
Quem também aproveita esse bom swell é Antônio Portinari, sócio da Art in Surf. O sobrinho-neto do pintor Cândido Portinari começou a importar pranchas de stand up no início de 2008, quando apresentou a novidade a alguns cariocas. O primeiro contêiner veio da China com 50 shapes. Nesse começo, Antônio transformou a garagem de sua casa em uma espécie de loja e vendeu tudo ali mesmo. A demanda cresceu e hoje já são três lojas pelo país – no Rio, em Garopaba (SC) e Santos (SP). “É verdade que o mercado de stand up costuma ser meio sazonal. Mas o esporte deu uma crescida intensa nos últimos três meses. Não teremos uma queda muito grande nas vendas quando acabar o verão”, diz. “Temos vendido uma média de 60 pranchas por mês. E ainda ganhei um representante no Nordeste, que vende muito para Fernando de Noronha.”
Medina ficou de pé e deu as primeiras remadas sem dificuldades. Coisa de garoto prodígioA primeira vez de Gabriel Medina
“Olha, moleque, a primeira lição que você precisa ter é como carregar uma prancha desse tamanho.” Haroldo Ambrósio, um dos principais nomes do surf de ondas grandes no país, tinha razão. É preciso quase uma aula só pra conseguir carregar uma board de paddle. Algumas vêm com um buraco no meio para encaixar a mão, senão o jeito é equilibrar na cabeça. O moleque em questão, atento às instruções, era Gabriel Medina, surfista prodígio de 16 anos, conhecido por ser o mais jovem vencedor de uma etapa do WQS (World Qualifying Series) – e por não parar de surpreender juízes de surf mundo afora. A convite da Trip, Haroldo daria uma aula de stand up para Gabriel. Era a estreia de Medina nas remadas.
Imagem: Tim-McKenna.com
O californiano Laird Hamilton, considerado responsável pela explosão do stand up, surfa em Teahupoo, Taiti
Gabriel só ouvia e repetia os movimentos de Haroldo. Diante de seu silêncio, era impossível saber se ele realmente estava entendendo alguma coisa. A resposta veio no mar. Quando colocou a prancha na água, Gabriel deixou de parecer um iniciante no stand up. Ficou de pé e deu as primeiras remadas sem grandes dificuldades, apesar de nunca ter feito aquilo na vida. Coisa de garoto prodígio. Penou para conseguir entrar em algumas ondas, mas surpreendeu no geral. “O Haroldo deu dicas de como usar o remo, aí ficou mais fácil. O mais complicado é virar para entrar na onda. A prancha é muito grande, pesada. Tem que ser rápido, e isso atrapalha no equilíbrio”, resumiu Gabriel. Este repórter, iniciante no surf, bem que tentou fazer igual. Ficar de pé é simples, mas manter o equilíbrio nas primeiras remadas já não é das tarefas mais fáceis.
O mar de Maresias praticamente não tinha ondas no dia em que a session entre Haroldo e Gabriel aconteceu. Mas a vantagem do stand up é justamente não depender disso. O esporte cresce tanto também porque pode ser praticado longe do mar. Em São Paulo, por exemplo, a raia da USP (Universidade de São Paulo) recebe praticantes de paddle desde 2005. “Seria ideal ver o stand up em todos os lagos e lagoas do país. E isso é perfeitamente possível”, imagina Jairo Pontes, criador de uma escola de paddle na raia.
Mister M também surfa
A ideia de lançar uma associação de stand up paddle no Brasil começou a habitar a mente do big rider Romeu Bruno assim que ele soube da criação nos EUA da ASUPP (Association of Stand Up Paddle Professionals) em junho do ano passado. Por aqui o esporte já dava sinais de que deslancharia mesmo – e alguns campeonatos começavam a sair do papel. Foi a deixa para Romeu oficializar, em agosto, a ABSUP (Associação Brasileira de Stand Up Paddle). “A ideia é ter um circuito com suas categorias diferentes, tanto de remada quanto de surf”, explica. Mas esse objetivo ainda parece longe de ser alcançado. O site da associação – na verdade um blog – dá a impressão de que a entidade está parada. O último post é de setembro, quando aconteceu o 1º Campeonato Brasileiro de Stand Up Paddle nas ondas, em Ibiraquera (SC). Ainda assim, os planos para o futuro são ousados. “Queremos ser reconhecidos pela associação internacional e, de repente, fazer com que Ibiraquera se torne etapa do circuito mundial.” (leia a reportagem com Romeu Bruno na Trip # 169 em http://tinyurl.com/y932nbs).
Imagem: Anselmo Venansi
Haroldo mostra por que tem cacife para ensinar Gabriel Medina
O professor do prodígio
Haroldo Ambrósio é um curioso. Se não fosse, não teria pego do lixo, aos 7 anos, um pedaço de uma prancha de isopor para tentar pegar ondas no Guarujá (SP). Filho de um zelador, aprendeu a surfar assim, na raça, até ganhar de um amigo uma prancha de verdade, dois anos depois. Surfou anos na pranchinha, preferia esse estilo. Mas, além de curioso, Haroldo é inquieto. No início do ano 2000, na temporada havaiana, encasquetou com o novo esporte em que se surfava com a ajuda de um remo. Era o início do stand up paddle por lá, e Haroldo embarcou nessa. Voltou para o Brasil e, no improviso, começou a treinar em cima de um longboard – mais fino e estreito do que o ideal para o paddle. Na mesma época passou a se jogar de tow-in nos maiores vagalhões havaianos. Agora, aos 32, faz de tudo um pouco, mas dá preferência ao stand up. Pelo menos até que sua curiosidade o apresente a algum outro esporte de prancha.Tipos de prancha
(da esquerda para a direita)1 - 8’10
2 - 9’6
3 - 10’
Para remada e travessia (12 a 18 pés):
4 - 12’6 bico arredondado
5 - 12’6 bico fino
6 - 13’
• O preço das pranchas varia de R$ 2 mil a R$ 4 mil. Os remos – de madeira, alumínio ou carbono – vão de R$ 400 a R$ 1 mil.
Dicas de quem sabe*
• Para ficar de pé, ajoelhe e, com as mãos apoiadas, coloque os dois pés ao mesmo tempo na prancha, um ao lado do outro, virados para o nose. Nunca solte o remo para levantar• Na remada, uma das mãos deve segurar a cabeça do remo e a outra o meio. Quando inverter o lado da remada, troque a posição das mãos. Não há regras para o número de remadas de cada lado.
• Olhe sempre para o horizonte para facilitar o equilíbrio.
• Use um remo proporcional ao seu tamanho. Para medir, coloque o remo ao seu lado com a pá para cima. No paddle surf, o encaixe entre a pá e o cabo do remo deve ficar abaixo do ombro. Para travessia, o encaixe deve estar acima do ombro, para que o movimento da remada seja mais alongado.
• Procure o centro da prancha durante a remada para não levantar o bico.
• Antes de fazer travessias, saiba a direção da ondulação e das correntezas.
• Espere a onda de frente para o oceano para ver a série. Ao escolher a onda, mude a base de apoio, deixando os pés virados para a lateral da prancha. Reme para fazer a virada e entrar na onda.
• Quando sentir que entrou na onda, coloque o peso do corpo no pé de trás, para não correr o risco de embicar.
• Na onda, use o remo para ajudar nas manobras e no apoio.
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